segunda-feira, 17 de março de 2008

End


A noite passada estava escura e impenetrável. Fazia muito frio[ típico de Petrópolis ]. Uma neblina espessa e opaca invade todo o espaço. A luz fina que vinha do céu era coberta pelas nuvens carregadas.Eu só. Caminhava pela noite fria. Era sempre assim. Meu caminho era sempre solitário. Andava sem rumo. O destino não me importava mais, sabia apenas que precisava continuar.Nenhuma direção estava certa, nenhum dos caminhos era conhecido. Era impossível ver qualquer coisa naquela noite. Eu continuava a seguir. Não interessava aonde iria, só queria chegar ao fim.A neblina úmida e pastosa só aumentava o frio que estava sentindo. Pensava estar em uma espécie de limbo. Apenas os arranhões que o contato com a vegetação me causava, faziam lembrar-me de que ainda estava vivo.Os primeiros sinais de cansaço se fizeram notar. Eu parei ofegante agarrado a algo que parecia ser um galho. Os pensamentos que giravam em minha cabeça perturbada rodavam e embaralhavam-se.Eu me lembrava de coisas, lugares, rostos, sons. Lembrava-me de um passado que queria esquecer. Sentia a dor seca e profunda do passado que voltava à tona. Fechei sofregamente os olhos, como que para espantar meus fantasmas. Os abri novamente, assustado. Continuei a andar.Eu me recusava a fazer as velhas perguntas. Sabia que não haveriam respostas. Eu queria apenas chegar ao fim. Sentia-me sugado para dentro daquela madrugada sombria e sem sentido. Tinha certeza de estar sozinho, mas ouvia sons. Eram agudos e irritantes, invadiam meus ouvidos. Estava certo de que os ouvia. Sons que só podem ser produzidos por pessoas. Mas, ali não haviam pessoas. Eu tremi. O que estava a ouvir eram risadas, gargalhadas de um escárnio infernal, dirigidas a mim.Os sons multiplicavam-se inexplicavelmente. Era como se uma multidão estivesse a minha volta. Uma multidão de malditos. Riam cada vez mais alto. Era um riso sarcástico e cruel.Sentia a multidão cada vez mais próxima de mim. Por vezes, os sons pareciam mesmo estar já dentro de minha cabeça. Eu tive medo. O terror das gargalhadas paralisava-me. Estava perdido. Mas eu não podia parar. Algo mais forte que eu me impelia para frente. Precisava chegar ao fim.Acelerei o ritmo, estava quase correndo. Sentia-me exausto. A cada passo meu as gargalhadas pareciam aumentar. Estavam por todos os lados. A escuridão não permitia que enxergasse sequer um palmo a minha frente, mas eu sabia que a multidão apontava seus dedos funestos em minha direção. Aquela risada maldita era insuportável.Eu caí, novos ferimentos surgiram. Eu não podia parar agora. Levantei-me, corri. As gargalhadas me perseguiam. Não havia como fugir. Estava perdido.A noite estava muito escura. A madrugada era muito fria. A neblina úmida era muito espessa. Não havia caminhos. Não havia mais nada a fazer. Eu estava exausto, não restava mais força alguma em meu corpo. Já não podia agüentar aqueles sons amaldiçoados. Decidi entregar-me à multidão maldita.Eu parou, abriu meus braços e lançei um olhar suplicante na direção do céu negro. A multidão me alcançou. As gargalhadas se tornaram ensurdecedoras. Eu estava perdido. A dor mas profunda e lancinante apossou-se de mim. Foi preciso apenas alguns segundos para que a multidão me devorasse.As gargalhadas cessaram. A noite escura e fria retornou ao seu silencio de morte. Eu, finalmente, consegui encontrar o fim.

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